Do ponto de vista de salários e desafios, a carreira da tecnologia da informação sempre foi apontada como topo da “cadeia alimentar”. Poucos ou nenhum problema existiam com relação a disponibilidade de vagas ou com os planos de carreira. Porém, o mercado está dando mostra de que mudanças estão ocorrendo.
Apesar da clara necessidade de atuação mais próxima das tomadas de decisão, num posicionamento mais estratégico, há uma enorme necessidade de aumentar a inovação, característica fundamental da área de tecnologia da informação. O detalhe é que tudo isso requer um profissional que precisa ir, hoje, além do bit e byte.
É aqui começam algumas dificuldades que estão aparecendo ultimamente. Os motivos são diversos. Temos escassez de gente, a competição com as organizações que sugam todos os talentos do mundo, e outras áreas de oportunidade que atraem esse mesmo perfil profissional.
Já tem gente dizendo que as áreas de TI estão perdendo o charme, e esforços para reter talentos precisam ser mais efetivos. As organizações já estão procurando pessoas que atuem bem, tanto na área técnica quanto na de negócios, nos novos bits e bytes e nos novos, e necessários, comportamentos.
Como o olhar estratégico, atualmente, passou a ter um peso diferenciado nas competências necessárias ao profissionais de TI, aconteceu, como num passe de mágica, um desaparecimento de gente qualificada.
A conta não fecha, isto é, houve um aumento de demanda e há, claramente, uma diminuição de oferta de pessoas com as habilidades mínimas necessárias. Faz sentido pra você?
Tenha certeza de que a área de TI, diferente de outras áreas, continua em alta no mercado. Dados de governo dão conta de que o setor de tecnologia da informação representa cerca de 4,5% do que o país produz de riqueza.
Outro ponto é que um estudo realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (BRASSCOM) indica a possibilidade, até o ano de 2020, de um crescimento em torno de 6,5% do PIB.
Sergio Sgobbi, diretor de recursos humanos da BRASSCOM nos chama atenção para o seguinte fato: os brasileiros ainda precisam se preparar para atender às necessidades do mercado de TI; precisamos desenvolver melhor nossos talentos para atender às organizações. Nosso setor acadêmico, diz ele, ainda não oferece o conhecimento necessário e nem consegue formar profissionais suficientes para atender à demanda do mercado.
Segundo a BRASSCOM, o Distrito Federal, Rio Grade do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná já possuem déficit de pessoal qualificado. A Associação diz ainda que a Bahia, Minas Gerais e Pernambuco, que junto com o Distrito Federal, Rio Grade do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, que são os estados que mais empregam pessoal de TI, já possuem uma deficiência em torno de 130% de mão de obra especializada.
A necessidade de possuir uma visão além do alcance faz com que a cultura das empresas ofereça um dificultador de ingresso de profissionais de TI na área de decisões estratégicas e até da área de negócios.
Há luz no fim do túnel? A tendência do mercado mostra que há uma mudança de visão nas empresas.
Já se sabe de companhias onde TI e finanças já possuem alguma interação, por exemplo, numa discussão de orçamento. Existem projetos corporativos que proporcionam essa ação parceira. A Consultoria Robert Half já mede um crescimento de cerca de 75% na participação integrada.
A CRH já levantou que muitas empresas já entendem que TI precisa estar alinhado e participando das decisões estratégicas, como também os setores jurídicos, de pessoal e de finanças.
É aí que o pessoal de TI precisa desenvolver novas competências para ser melhor visto pelas outra áreas da organização, principalmente pela administração superior e pelo mercado como um todo. Porém, ao ler o depoimento de Caroline Cadorin, da área de recrutamento da Consultoria Hays, percebe-se que ainda está muito rasa a percepção do pessoal de TI sobre essa necessidade. Carolina informa que muitos de seus clientes (empresas) já indicam um perfil para o pessoal de TI que passa por conhecimento técnico com um viés muito claro para a área de negócio.
Um pouco mais rigorosa é Ione Coco, vice-presidente da Gartner, na América Latina. Ela diz que gente da área de TI precisa, verdadeiramente, ter foco principal no negócio e entender de tecnologia como um diferencial de competência técnica. Seria isso uma vantagem competitiva? E ela não perdoa! Diz que se o pessoal de TI ficar só no “seu quadrado”, em no máximo dez anos não vai ter muita utilidade para a empresa. Assim, uma habilidade é a pessoa saber quando e como investir nela mesma.
Porém, precisamos entender também que há reclamação por parte dos profissionais que atuam na área de TI. Muitos deles, jovens talentos, dizem que grande parte dos gestores da empresas não dão o devido valor aos seus setores de TI. É aí que os profissionais da área se sentem desmotivados.
Aqui cabe uma pergunta: e como os profissionais de TI podem agir para que se altere esse estado de coisa? No que é podem atuar para melhorar a visão sobre suas competências técnicas e comportamentais, de forma que se mostrem mais atraentes e capazes de atingir as expectativas das companhias?
É fato que o mercado para TI é muito ágil e oferta e demanda de talentos se modificam constantemente. Inúmeras empresas de TI brotam no mercado à todo instante. Esse fenômeno exige dos profissionais da área constante atualização. A novidade de agora pode não valer mais nada em cinco minutos.
Mas isso pode ser uma faca de dois gumes. O povo de TI pode se sentir motivado à sua própria melhoria e profissionais, de outras áreas, podem se sentir impelidos à ingressar no mundo da tecnologia da informação. Isso faz sentido para você? Já percebeu que engenheiros, administradores, economistas e outros profissionais já passaram a integrar times de TI? Pois é! A Consultoria Robert Half já tem estudo sobre o assunto.
O aparecimento de novas tecnologias aumenta mais esse falta de profissionais capacitados. Há demanda, as organizações aumentam sua expectativa por pessoal com o conhecimento, porém falta gente capaz e pronta para entrar em campo. Segundo a consultoria existe um gap entre o lançamento da tecnologia, a preparação do curso para repasse do conhecimento e a certificação específica do profissional. Leve-se em consideração também que, nem sempre, o conteúdo preparado é bom o suficiente para ofertar a qualidade necessária para o mercado. Existe inclusive uma deficiência na avaliação e consequente fiscalização do conteúdo e da qualidade da formação.
E como é que vamos dar solução para isso? Quem, como, onde, com qual custo vamos conseguir minimizar as dificuldades que esse quadro nos apresenta?
Bom, um exemplo que as empresas estão apresentando são as universidades corporativas. Podemos citar o Bradesco, como sendo exemplo, de quem vem driblando a dificuldade com a sua Fundação Bradesco. Sabe aquele slogan: “craque a gente faz em casa” (eu não sei quem é o autor), pois é, o Bradesco está formando seus especialistas já com visão sobre o negócio da empresa. Segundo pesquisa, o vice-presidente de TI do Bradesco, Aurélio C. Boni, afirma que cerca de 100 mil pessoas já foram formadas em seus bancos escolares. A área de TI é uma das que estão no rol dos curso oferecidos pela fundação, que têm por objetivo atender às necessidades organizacionais. O pessoal de TI do Bradesco, mais especificamente cerda de 3,5 mil pessoas, recebe atenção especial da empresa, com orçamento especifico e bem aplicado no setor. A companhia tem muito cuidado, segundo Boni, com a capacitação técnica e comportamental do seu pessoal.
E aqui vou dizer que as competências comportamentais, hoje, são muito mais procuradas dos que as técnicas. Há pouca oferta de gente qualificada no mercado, assim, a pessoa que tem competência para melhor se relacionar, sabe se comunicar, possui adaptabilidade e flexibilidade, com certeza é vista de uma forma diferente pela empresa contratante. Isso, hoje, é gente rara! Você concorda comigo?
Eu não sei se em seu ambiente de trabalho você se depara com pessoas com baixa capacidade de se relacionar e se comunicar. Minha experiência no acompanhamento e desenvolvimento de profissionais da área de tecnologia da informação tem oferecido dados estatísticos que apontam para um baixo nível de relacionamento.
E eu quero chamar a atenção para isso. Alguns dizem que isso é “normal”. Eu possuo uma outra visão sobre este assunto. Meus dados permitem que eu afirme que isso é “comum” e não “normal”. Normal é que as pessoas se relacionem, se comuniquem, saibam ouvir umas às outras, se colocar no lugar do outro, etc. É por isso que eu quero transformar o comum em normal. Para você esta informação agrega valor? Meu trabalho é fazer com que as pessoas usem essas habilidades e comportamentos normalmente, como um hábito simples.
Algumas pessoas ainda insistem em afirmar que essas são competência dos administradores ou líderes de áreas. Eu afirmo que isso não pode ser uma verdade absoluta. Não é só o CIO que tem que possuir estas habilidades. Todos precisamos delas.
Pessoas, profissionais, gente de uma forma geral que está no mercado de trabalho, não pode se dar ao luxo de ser introvertida e possuir somente habilidades técnicas. Ser um super hiper das galáxias técnico, nos dias de hoje, não atende às necessidades das empresas. Não há como viver num ambiente corporativo sem se relacionar. As pessoas precisam ter interface com outras pessoas, de seu próprio setor e de outros setores, interagir com pares, subordinados e chefes (ou líder, se soar melhor para você).
A Natura, outra empresa sobre a qual existe conhecimento disponível, mostra através de seu CIO Agenor Leão, que apenas versatilidade e capacidade de negociação, não é o suficiente para a companhia. Como eles sabem que o mundo tem muito mais gente, e que essa gente tem que se relacionar, sabem que são necessárias outras competências comportamentais para atender às expectativas da empresa e do mundo ao seu redor.
Para tratar com colegas de trabalho, com os clientes e os fornecedores, os funcionários da Natura, segundo Agenor, precisam ter muita flexibilidade e bastante jogo de cintura para identificar e resolver os problemas que, todos os dias, surgem. Outras capacidades são, por exemplo, capacidade de trabalhar em rede, saber lidar e desenvolver sua autonomia, possuir automotivação, etc.
E aí surge um ponto de atenção: quem consegue recrutar, selecionar e capacitar esse tipo escasso de profissional tem um grande desafio: saber como reter esse talento humano.
Estatísticas mostram que, principalmente os mais jovens, que são atraídos pela área de TI, aumentam o índice de turn over da organização. A empresa tem que ter uma estratégia muito clara sobre plano de carreira e carteira de benefícios que agreguem valor aos seus ilustres colaboradores.
Essas novas pessoas buscam a emancipação profissional. Elas quem ir mais alto, mais rápido e mais jovens. É por isso que o desafio fica bem grande.
Porém essa tentativa de antecipação do sucesso, muitas vezes, esbarra na falta de maturidade e consequente despreparo para a responsabilidade que os altos cargos exigem. E as empresas estão atentas para isso.
É com uso da criatividade que os administradores das organizações atuam na retenção dos jovens talentos humanos. O oferecimento de diversas oportunidade para desenvolvimento profissional é uma das técnicas. Como eles não querem, de forma alguma, ficar obsoletos, geralmente ficam inclinados a aceitar e permanecer na companhia.
Salário não tem sido um dos grandes vilões do abandono dos postos de trabalho. Aqui mesmo você vai encontrar um artigo onde dei o título “DICA DO COACH – Eu afirmo: ninguém trabalha por dinheiro! Tenho provas.” – postado em 26 Abr 16. A escassez de pessoas capazes vai, na maioria das vezes, fazer com que a remuneração continue sendo um dos atrativos. Nos últimos anos temos observado que as reposições e aumentos de salário são bastante satisfatórias, segundo consultorias especializadas em remuneração de profissionais de TI.
Caminhando para o final da minha exposição, pude aprender que para os profissionais de TI, valores agregados que chamam bastante atenção são, por exemplo, um ambiente de trabalho agradável (com atenção para a qualidade de vida), uma carga horaria flexível e diferenciada e, ainda, um bom plano de investimento, demonstrando a visão de futuro dos gestores da empresa. Isso funciona mais ou menos como uma demonstração de que não há mágica, o que há é um planejamento por parte da organização para ter um orçamento aplicado na área de tecnologia da informação, direcionado aos profissionais, materiais e serviços necessários ao bom andamento do trabalho que precisa ser desenvolvido. É assim que os profissionais engajados vão, verdadeiramente, querer ficar na sua empresa, ou melhor, vão querer acompanhar você.
Um forte abraço, saúde e paz.
Sinceramente,
Claudio de Almeida Neto – Master Coach de Carreira